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OUVIDA - N. SRA DA OUVIDA

A Senhora da Ouvida é uma das principais feiras anuais do Concelho de Castro - Daire

Esta festa anual, celebrada, em 3 de Agosto, tem um carácter religioso com romaria e novena desde há décadas, contando com missa campal e procissão;

Desde tempos idos uma das suas principais atracções é a feira de gado bovino, corrida de cavalos e luta de bois;

TRADIÇÃO DO SALPICÃO DA LÍNGUA
É em 3 de Agosto de cada ano que tradicionalmente as famílias desta Freguesia se juntam para confraternizar -  almoçar e lanchar - ao ar livre, numa fraga ( rocha de granito a servir de mesa ), cada uma levando o seu farnel;

Uma das particularidades deste almoço é que neste dia se come o " salpicão da língua " ( enchido da língua do porco ) - curado a fumo natural da lareira  ( o rei do salpicão).

Aqui encontramos e apreciamos:

  • Assadas de febras de vitela e porco, couratos, entremeada e todo o tipo de petiscos, acompanhados com bom vinho da região ( desde o vinho maduro do Douro e Dão até ao verdasco ).
  • Tendas com variedade de brinquedos para a pequenada, loiças regionais, vestuário, calçado;
  • Biscoito da Teixeira - Lamego ( exclusivo desta região );
  • Rebuçados da Régua ( exclusivo )
  • Bola de presunto, fiambre, bacalhau e sardinha ( exclusivo da região );
  • Fumeiros da região ( presunto, salpicão, chouriça );
  •  Divertimentos para todos ( carrocel, carrinhos de choque, etc. )

 Antigamente ( na década de 70 ), existiam bailes espontâneos com concertina e acordeón e discos pedidos para dançar durante a tarde;

  • Tradicional festa onde os nossos emigrantes ( em grande número ) se reencontram com os seus familiares e amigos, vindos de todo o Concelho de Castro Daire, Distrito de Viseu e outras zonas do País (  mês de Agosto - em que tradicionalmente os nossos emigrantes passam as suas férias em Portugal ).

Na época moderna, em 2001, pela primeira vez, foi apresentada uma tourada à portuguesa ( cavaleiros, espadas, forcados ), com o apoio da Câmara Municipal de Castro Daire e que se manterá futuramente.

 

História - Práticas funerárias e culturais dos finais da Idade do Bronze na Beira Alta - Raquel Maria da Rosa Vilaça, Domingos Jesus da Cruz

Recentemente, no âmbito de trabalhos de campo de prospecção, foi possível inventariar na Beira Alta vários grupos de pequenos monumentos, feitos em pedra, de planta circular, pouco destacados no terreno, alguns dos quais com pequenas cistas de pedra na sua parte central — "Casinha Derribada" e "Serra da Muna", no concelho de Viseu, "Mazugueira" e "Caramêlo", no concelho de Tondela, "Senhora da Ouvida", no concelho de Castro Daire e "Casa da Raposa", no concelho de Vila Nova de Paiva, etc. Estas estruturas têm sido interpretadas como sepulturas da Idade do Bronze. O projecto pretende dar continuidade ao estudo destes pequenos cemitérios. esperando-se, no fim, conhecer melhor as práticas funerárias e o comportamento cultual das populações de finais da Idade do Bronze que ocuparam a região.

Mamoas

Mezio - Da pré-história chega-nos um legado de evidente importância. O número de monumentos funerários provenientes do período neolítico ( cerca de 2500 anos antes de Cristo) comunemente designados por "mamoas" e "antas", é de cerca de uma centena, destacando-se pela sua importância o núcleo megalítico do Mezio, recentemente alvo de estudo e valorização. De igual modo relevante, quer pela sua importância patrimonial quer pela cientifica, é a estação de arte rupestre do Gião, formada por um conjunto de cerca de 100 rochas gravadas com diversos motivos esquemáticos, incluídos num fantástico anfiteatro natural, representando um vasto local de reflexão ritual para as comunidades humanas que as realizaram há cerca de 3500 anos.

 
Texto: Manuel Dória Vilar

HISTÓRIA DE BRUXAS - OUVIDA

No lugar da Ouvida, onde actualmente se faz uma feira anual, cruzam-se os caminhos que ligam as povoações das redondezas. Ali passa a estrada nacional nº 2 e corre na tradição oral que vai ser ali o fim mundo. Que ali terá lugar o juízo final.

Encruzilhada própria para reunião de bruxas e outros seres malignos que andam «pelo mundo para perdição das almas», os serões, em redor da lareira, deram conta, através de gerações, de milhentas histórias ligadas a tão funestos seres que ali assentavam poiso, altas horas da noite.

 

A versão mais recente ligava-se à visão que tivera o filho de um velho serrador de madeira do concelho. O pai, depois de passar uma quinzena a cortar em fatias rolos de pinheiros, um dia, deixando a «burra» e o «serrão», posto o produto da sua arte e suor em cima de um carro de bois, foi vendê-lo à feira de Lamego. Era preciso chegar cedo pois ali afluíam, vindos de todos os lados, outros colegas de ofício na mira de, também eles, venderem pelo melhor dinheiro a madeira procurada para casas e barracões do burgo ou então para quintarolas fora de muralhas.

Ainda o dia era uma  criança e já o carro, ferradinho de novo, com trilhos acabadinhos de sair da forja, estava às portas da cidade, deixados que foram para trás, Colo de Pito, a velha ponte romana de Reconcos, Magueija, Matança, Penude e demais aldeias por onde passava a estrada real que ligava Castro Daire à cabeça da Diocese.

Vendida a madeira, para não regressar com  o carro vazio, o serrador foi fazer compras. Dois cestos de figos e outros tantos de uvas de mesa, uvas temporãs, que iriam fazer as delícias da prole, faziam parte da carrada.

 

Já o sol descambava no horizonte, prestes a aninhar-se no colo da noite, quando saiu das portas gradeadas da cidade. Pachorrento o carro de bois, agora silencioso - ele gastara o repertório de estridentes árias na ida -  sem dificuldade, venceu as curvas que, da cidade de Lamego até Reconcos, fazem negaças a almocreves e romeiros que, dia a dia, ou, ano a ano, das bandas do Montemuro vão àquela cidade em negócios ou cumprir promessas à Senhora dos Remédios.

 

Com o serrador viajou o filho, ainda pequenote - é de pequenino que se torce o pepino -  que, tanto na ida como no regresso, foi a maior parte do tempo em cima do carro, só dele descendo quando não aguentava mais a dureza do assento. Gostou mais do regresso. De quando em quando, às escondidas do pai, qual melro atrevido, debicava um cacho de moscatel ou de quilhão de galo, uvas bafejadas pelo ar do Douro, mas que não vingavam nas encostas do Paiva, por mais enxertos que fizessem os agricultores. Mas por teimosia lá continuavam a trazer os ?garfos?, sempre na esperança de melhorarem a qualidade das suas produções. Trazer a casta, mas não trazer o solo nem os ares do Douro revelou-se, contudo, pouco prometedor. A experiência assim o ditava, mas os lavradores não desistiam.

 

Mordiscando cachos, embrulhado e embalado pelo passo pachorrento dos bois, ora dormitava, ora acordava, parecendo-lhe que a viagem não tinha mais fim. Estava visivelmente cansado.

 

Ao chegarem ao lugar da Ouvida, àquela encruzilhada de caminhos, sítio descampado onde o vento não encontra barreiras, vindo o pai a dormir estendido ao comprido em cima do carro, e o rapaz sentado nas chedas  agarrado ao último estadulho, olho vivo a espreitar as estrelas,  eis que, à sua frente, se deparou com um grupo de mulheres todas nuas a dançarem à roda. Os cantares próprios dos arraiais a que já assistira na aldeia, eram substituídos por gargalhadas estéricas, guinchos, risadas estridentes, assustadoras de morte. Saracoteando os corpos, faziam-no com tal leveza que, dir-se-ia, não punham os pés no chão. Luzes esquisitas, bem diferentes daquelas que dão as velas e lamparinas de azeite, iluminavam o cenário. «Mulheres àquela hora da noite, dançando à roda numa encruzilhada, naquele jeito e naquele estado, só podiam ser bruxas».- pensou o garoto. E lembrando-se das histórias de bruxas que, durante os serões enchiam sistematicamente o seu imaginário de criança, ocorreu-lhe aquilo que diziam elas serem capazes de fazer: transportarem pelos ares carros e pessoas depositando-os em qualquer lugar esconso de difícil acesso. Medroso, arrepiado, a tremer como varas verdes, ficou mudo como um penedo. As vacas continuaram o seu caminho e, ao aproximarem-se do sítio da dança, as mulheres tomaram a forma de nuvens e, como que sopradas pela brisa da meia noite, desapareceram sem deixar rasto.

Já em casa,  ele conta a visão que tivera.

Que sim. Era verdade, verdadinha, as bruxas apareciam ali e noutras encruzilhadas não perdoando a quem se metesse com elas, a quem as provocasse. Quantos carros não haviam sido já encontrados em barrancos e ravinas levados pelas bruxas?

-              Fizeste bem,  bico caladinho foi o melhor,  se não lá estaríamos também nós. «Quem vai, vai. Quem está, está!»*

 

 

* Esta história de bruxas foi-me contada pelo meu tio Joaquim Ferreira Soares, de Fareja, na altura com cerca de 80 anos. Faleceu com 95 anos de idade. Publiquei-a em 1995 no meu livro «Castro Daire ? Indústria Técnica e Cultura» e também em 2004 no livro «Lendas de Cá, Coisas do Além»

** Texto: Dr Abílio Pereira de Carvalho, natural da freguesia de Cujó, concelho de Castro Daire. Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa

** In Montemuro Trilhos Serranos da autoria de Dr Abílio Pereira de Carvalho
** Aqui deixamos expresso e manifestamos o nosso agradecimento.